sábado, 30 de junho de 2012

Sonic Youth - Little Trouble Girl



A direção é do Mark Romanek.

Os 45 Anos do Verão do Amor


A edição de julho da "Vanity Fair" traz uma boa reportagem sobre os precedentes que culminaram no assim chamado "Verão do Amor" - que completa 45 anos em 2012. É interessante ver os eventos sob perspectiva. Não há como negar que os acontecimentos tiveram efeitos consideráveis sobre o comportamento e a política dos Estados Unidos - e, por tabela, em pelo menos no resto do mundo ocidental. Entretanto, ao contrário do que pode nos levar a crer alguns dos personagens daqueles tempos, os demais movimentos que se desenrolavam em paralelo, como o pacifismo e a luta por direitos civis (das mulheres, dos negros, dos gays), foram catalisados  por aqueles tempos lisérgicos, e não necessariamente causados por eles. O músico Joe McDonald vê uma compreensível ligação direta com movimentos contemporâneos, como o "Occupy Wall Street", mas relacionar aquele Verão à Primavera Árabe é forçar um pouco a barra. A aura comunitarista, revisionista e libertária teve implicações diretas na moda, na música, nas experiências químicas, no início dos protestos contra aquele atoleiro que se tornaria a guerra no Vietnã (basta dizer que os três presidentes norte-americanos do período de 1967 ao fim do conflito, Lyndon Johnson, Richard Nixon e Gerald Ford, tiveram administrações turbulentas), mas sob um aspecto mais pitoresco, se levarmos em conta a ótica atual (como não considerar irresistível a ideia da Haight Ashbury Free Medical Clinic?). Contudo, como lembra o colunista do "Washington Post", Nicholas von Hoffman, que cobriu de maneira mais crítica aquele momento, a maioria daquelas pessoas não eram particularmente bem educadas ou politicamente engajadas - estavam mesmo era atrás do famigerado trinômio "sexo, drogas e rock'n'roll". Entre 1988 e 1989 houve uma espécie de "reedição" do Verão do Amor na Inglaterra, com o início das raves e com o ecstasy substituindo o LSD como "droga-fetiche".
O mais importante, nos lembra o artigo, é que ficaram várias lições, como a impossibilidade de se construir um movimento social baseado em drogas e uma maior valorização de princípios como amor e liberação. É isso aí.

The Black Keys - Lonely Boy



Goste ou não, já é clássico.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

The Danish Poet (Torill Kove, 2006)



Belíssima fábula sobre o acaso, vencedora do Oscar de Curta de Animação em 2007. A narração é da musa do Bergman, Liv Ullmann.

Leonard Cohen - Old Ideas (2012)


2012 tem sido um bom ano para músicos veteranos. Patti Smith, Neil Young e Iggy Pop lançaram discos bastante interessantes. Pretendo falar deles mais adiante. O melhor resultado, contudo, foi o "Old Ideas", do canadense Leonard Cohen. O artista não lançava um álbum de inéditas havia oito anos. A espera valeu a pena. Cohen se afasta aqui do tom profético dos primeiros discos, da aura de bon vivant e womanizer e do pensador das transformações do fim do século para chegar a uma sonoridade mais etérea, raramente conseguida anteriormente. O que pontua o disco é a incrível aceitação da própria finitude do artista. Sua voz jamais esteve tão tranquila e segura, e a auto-ironia de seus versos, se não representa uma novidade em si, adquire aqui contornos definitivos e certeiros. O bardo sabe que esse será um de seus últimos trabalhos (senão o último). E sabe também que vai deixar uma contribuição inestimável para o cancioneiro mundial. Para chegar até aqui, ele pregou, seduziu, protestou. Ele se fez ouvir, e agora está em paz.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Samuel Aranda - World Press Photo of the Year (2012)


Na premiada fotografia do espanhol Samuel Aranda, uma mãe iemenita abraça seu filho ferido nos protestos contra Ali Abdullah Saleh, em Sana, outubro passado. O resultado oficial das eleições egípcias está aí pra mostrar que o "processo revolucionário" no Oriente Médio é muito mais complexo do que seus entusiastas globais previam (aí incluído o autor destes mal digitados caracteres). 

sexta-feira, 22 de junho de 2012

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Infância Feliz 2


Jovens Adultos (Young Adult, Jason Reitman, 2011)


Nunca entendi muito bem todo esse prestígio do Jason Reitman. Achei "Obrigado por Fumar"/"Thanks for Smoking" bastante superestimado, enquanto "Up in the Air" deve ter sido o filme mais careta que eu vi nos últimos tempos, disfarçado ainda de uma "crítica à América em crise". Mas o pior deve ter sido mesmo o "Juno", parceria do diretor com a roteirista, escritora e ex-stripper Diablo Cody (cuja fama deve ser decorrente apenas da idiossincrasia dessa última profissão). É um filme que jamais encontra um tom, que se quer "descolado" mas que consegue ser apenas deslumbrado e auto-indulgente, protagonizado por uma das atrizes mais irritantes da atualidade, a Ellen Page (que nesse quesito enfrenta uma disputa acirrada com a inglesinha Keira Knightley).
Por isso fui assistir ao último filme da dupla, "Young Adult", cheio de ressalvas. E não é que dessa vez a surpresa foi boa? A história - uma escritora de romances juvenis (daí o título original, que designa esse tipo de literatura nos EUA, e que ganhou essa versão meio equivocada no Brasil, "Jovens Adultos") que vive na "cidade grande" Minneapolis e resolve voltar pra sua cidadezinha natal ao decidir que o cara da sua vida é um ex-colega da escola, já casado e pai recente - consegue rir de seus personagens e apresentá-los sem nenhuma reverência. Charlize Theron tem aqui o seu melhor trabalho e talvez sua personagem mais interessante - a mulher já caminhando para a meia-idade que percebe ainda levar uma vida de adolescente, além de não propriamente bem-sucedida. O filme não busca a redenção de ninguém e todos continuam sendo quem sempre foram. É claro que, mesmo pra se chegar a isso, Cody e Reitman utilizam elementos clássicos da narrativa do cinema de indústria (esperar que fugissem disso já seria demais), mas com um resultado genuíno e que nos lembra que um certo cinismo pode ser uma boa lufada de ar fresco na mofada caretice dos filmes de hoje em dia.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

"El Camino" é o novo "The Suburbs"?


Passados seis meses desde seu lançamento oficial, o álbum "El Camino", dos Black Keys parece estar caminhando para se tornar o "The Suburbs" do duo americano. O disco de 2010 do Arcade Fire conquistou a crítica mundial e serviu para expandir de maneira consistente o público da banda - e, de quebra, conquistou um inesperado Grammy de Álbum do Ano em 2011. Os canadenses ficaram grandes.
Os Black Keys estão na estrada há mais de dez anos e, embora gozassem de reconhecimento de seguidores mais seletos, nunca chegaram a ter um público amplo. O disco anterior, "Brothers", começou a chamar alguma atenção. E aí veio esse "El Camino" e tudo mudou. Os caras estão sendo festejados, viraram headliners de grandes festivais, a música "Lonely Boy" parece onipresente e os vídeos que vêm aparecendo estão cada vez mais hypados. Confesso que, na primeira audição, achei o disco bacana, mas estava esperando algo que me impressionasse como o "Brothers" (basicamente mais blues e menos rock). Escutando o álbum outras vezes, fui tomando cada vez mais gosto a ponto de hoje tocá-lo sem parar. A dupla está menos blueseira e mais rockeira, mas com uma pegada meio anos 1950 principalmente; há ainda ecos de Beatles, Hendrix e Led Zeppelin, entre outros. Saiu um discaço. E a aclamação geral parece ter finalmente chegado.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Frango com Ameixas (Poulet aux Prunes, Vincent Paronnaud e Marjane Satrapi, 2011)


Quando assisti ao "Persépolis", da Marjane Satrapi e do Vincent Paronnaud, fiquei impressionado. Estava tudo no lugar, redondinho, e a animação dava uma liberdade impressionante para a narrativa, que, embora real, era tão "cinematográfica". A partir daí, fui atrás dos outros trabalhos gráficos da autora/diretora (e adorei a capa que ela fez para o disco "Préliminaires", do Iggy Pop). E não me causou muita surpresa sua opção, ao filmar sua graphic novel de 2004, "Poulet aux Prunes", em misturar animação e atores reais. Trata-se de uma artista com muita disposição em experimentar, e a trama, novamente real e inspirada em acontecimentos familiares, não seria nenhum impedimento para a empreitada.
A presença de atores como Mathieu Amalric, Isabella Rosellini, Maria de Medeiros e Chiara Mastroianni mostra o prestígio que Satrapi e Paronnaud conquistaram com o filme anterior. Aqui eles voltam ao Irã pré-revolução (só que em um ambiente que parece ser mais ocidentalizado) para contar a história de um violinista que, ao ter seu instrumento musical destruído por sua esposa, resolve simplesmente esperar pela morte. Ao longo do filme, com as idas e vindas da narrativa, conhecemos a história desse músico e das pessoas que o cercam, por meio de vários recursos como animação, sitcom, teatro e aspectos oníricos.
No início, tem-se a impressão de que o filme vai se enveredar por uma narrativa "fofinha", como o irritante "Amélie Poulain", só que os diretores pontuam a história com uma boa dose de melancolia; os sentimentos dos seus personagens são um pouco mais complexos (em vários momentos é difícil admirar o protagonista, por exemplo) e eles não temem em mostrar o quão frustrante os caminhos tomados podem se mostrar. O frango, no caso, é agridoce.

Ainda Ivan Lessa


Depois de mais de 28 anos de auto-exílio, Ivan Lessa voltou ao Brasil (ao Rio) em 2006, à pedido da revista "piauí". Suas impressões foram publicados na primeira edição da revista. E "piauí" colocou a excelente crônica de volta ao ar. Essa é pra guardar.

Chris Isaak - Wicked Games (from Coração Selvagem/Wild at Heart, David Lynch, 1990)

domingo, 10 de junho de 2012

Weekend (Andrew Haigh, 2011)


Resvalar para o clichê é o resultado mais comum do chamado "cinema de gênero". É por isso que, quando surge um filme como o britânico "Weekend", ele tende a facilmente se destacar. Indo muito além do estereótipo de "filme gay", trata-se de uma história muito crível de dois caras working class que se conhecem e ficam juntos, como o título sugere, durante um fim de semana. O roteiro enxuto e a direção segura lidam com questões como desilusão amorosa, saída do armário, sexo casual e busca de algo mais de uma maneira realista. Não se trata aqui de uma história de amor impossível, de desabrochar de pessoas especiais ou de discursos políticos prontos, mas da narração verossímil de duas pessoas comuns que se conhecem em uma situação banal, têm problemas cotidianos para resolver e questões particulares para enfrentar. Fugir de fórmulas e evitar proselitismos é, afinal de contas, ainda a melhor maneira de se contar uma história.

Os bichos bichas de Ivan Lessa


Em dia de parada gay em São Paulo, vale lembrar uma bela crônica escrita pelo ivan lessa há cinco anos.

Gip Gip Nheco Nheco



A editora "Desiderata" reuniu, em 2006, no livro "Gip Gip Nheco Nheco", alguns dos melhores momentos do Ivan Lessa frasista do "Pasquim", entre os anos de 1972 e 1977. É sensacional. Aqui vão algumas:

"Se a angústia existencial der as caras lá pelo interior da Paraíba, eles comem."

"Se Robespierre tivesse nascido em Crato, Ceará, ele se chamaria Danton."

"Em 2007, a Academia Brasileira de Letras entrará para o ano de 1897."

"Se você colar o ouvido no peito de um cineasta brasileiro, ouvirá nitidamente uma voz dando entrevista."

"Os motivos de força maior, em Uganda, levantam peso, tem mais de 1,80m e não querem saber de conversa."

"A terra de ninguém é sempre disputada por duas ou mais facções."

"Na Índia, devido a uma tradição religiosa-filosófica, não há a menor diferença entre os mortos e os vivos."

"Em 1984, 4 entre 5 canções populares terão por título e letra 'Lalaraiá'."

"Nos países onde quase tudo é proibido por lei, os jovens, esses eternos sonhadores, vivem repetindo: 'legal, legal, legal!'"

"Cada vez que, no Nordeste, emprega-se a expressão 'chover no molhado' há um mal estar geral no salão e as pessoas perguntam: 'afinal  é o cólera ou a cólera?'"

"3 entre 4 políticos não sabem que país é este. O outro pensa que é a Suécia."

"Dia de Finados, no Líbano, são 365."

"A omissão é uma das formas mais eloquentes da manifestação inequívoca."

"Os jovens brasileiros são a esperança de um futuro melhor para os EUA."

"O povo é uma espécie de processo cultural e político em constante abstração."

"De modo geral, só temos uma coisa a temer: a coisa de uma forma geral."

"Antes de mais nada, vamos admitir: a pobreza é uma experiência que não deu certo."

"O Brasil é o único país do mundo onde cada momento extremamente delicado leva de 10 a 15 anos."

"O brasileiro é um povo com os pés no chão. E as mãos também."

"A maior parte das crianças brasileiras quer ser gente quando crescer."

"Num país onde o futuro a Deus pertence, os agnósticos perguntam 'E o passado? Quem vai se responsabilizar por ele?'"