domingo, 11 de novembro de 2012

A Turma do Charlie Brown (Race For Your Life, Charlie Brown, Bill Melendez and Phil Roman, 1977)



Nada melhor que um filme de animação realmente infantil, mas que trata as crianças com muito respeito, ao fazer uso de um roteiro bem amarrado, com personagens bem construídos e uma mensagem final edificante (não haveria como ser diferente), mas não necessariamente redentora ao extremo. O longa de 1977 da turma do "peanut" Charlie Brown, "Race For Your Life, Charlie Brown", apresenta os clássicos personagens de Charles M. Schulz em um acampamento de férias, competindo em uma corrida de botes com outros personagens, principalmente três garotos maiores e malvados. O enredo básico privilegia o traçado simples dos personagens, reafirma a personalidade de cada um dos garotos (e, claro, do cão Snoopy e do pássaro Woodstock) e tem uma belíssima trilha sonora, bebendo no folk e no jazz. Schulz e os diretores Melendez e Roman, numa época em que a abordagem infantil era bem diferente desta dos dias que correm, ao ironizarem temas adultos, como auto-estima, liderança e democracia, apostaram que estavam falando com crianças espertas. Eles estavam, e essa aposta bem que poderia ser constantemente renovada por outros animadores.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Moonrise Kingdom (Wes Anderson, 2012)



Wes Anderson é um dos poucos cineastas da atualidade que conseguiram criar um mundo próprio que perpassa seus filmes, a exemplo de Tim Burton, Quentin Tarantino ou David Lynch. É um mundo com um visual vintage, personagens blasé, trilha sonora cuidadosamente passadista e um tom predominantemente melancólico. Essas características estão presentes de maneira intensa em seu novo filme, "Moonrise Kingdom", seu melhor trabalho desde "Os Excêntricos Tenenbaums"/"The Royal Tenenbaums" (2001). A história de dois problemáticos pré-adolescentes que fogem de casa para ficar juntos, em uma pequena ilha fictícia no ano de 1965, é de uma delicadeza surpreendente para um autor que parecia se preocupar mais com a forma do que com o conteúdo de seus últimos trabalhos. Aqui ele parece entender bem o universo daqueles garotos que buscam fugir das relações pouco sinceras do mundo dos adultos, que eles sutilmente estavam começando a reproduzir. Anderson invade esse universo por meio de sua já característica câmera em zoom e do onipresente binóculo da garota Suzy, e consegue nos entregar uma saborosa história de amadurecimento, tanto do próprio autor como dos adultos, que são mais infantis do que os próprios moleques.  

domingo, 4 de novembro de 2012

Alois Nebel (Tomáš Luňák, 2011)



Se, como já comentei anteriormente, o hiper-realismo de parte parte das animações atuais tendem a restringir as diversas nuances de suas produções, por outro lado, o uso de elementos de animação podem enriquecer as narrativas do chamado "cinema de carne e osso". O tcheco "Alois Nebel", adapatado por processo de rotoscopia da trilogia de graphic novel homônima, utiliza justamente essas características para imprimir com força os aspectos oníricos e alucinatórios da história de um despachante de trem de um pequeno vilarejo na Tchecoslováquia de fins de 1989 enviado para uma clínica de saúde mental ao confundir constantemente alucinação e realidade, presente e passado.
O filme é, de fato, uma seca reflexão da transição do comunismo para os novos dias na Tchecoslováquia, onde o tempo está constantemente sombrio e fechado, os cenários estão desmoronando, os trens descarrilados e as notícias da transição política chegam aos passivos personagens por meio de longínquas transmissões radiofônicas. É o novo se impondo em um contexto onde o passado sequer foi devidamente assimilado, as feridas da história não se cicatrizaram completamente. Luňák nos mostra de maneira pouco condescendente uma realidade que mudou tão velozmente e tão impositivamente que poucos conseguiram assimilar aquele novo mundo real.